November 28, 2005

Frases (4): Samuel L. Jackson in "Unbreakable"

"It's all right to be afraid David... because this part won't be like a comic book. Real life doesn't fit into little boxes that were drawn for it."

Elijah Price

November 21, 2005

Habla con Ella (2002)


Fala com Ela (2002) - Pedro Almodóvar

Benigno, um solitário enfermeiro, alimenta diariamente uma relação platónica com a paciente Alicia, uma bailarina vítima de um acidente de viação, que se encontra aos seus cuidados e por quem Benigno nutre um amor tão profundo como o coma em que ela se encontra. Marco, um desamparado jornalista, encontra em Lydia, uma matadora de touros, o amor perdido com o fim de uma anterior relação. Após um casual primeiro encontro num teatro, os destinos destes dois homens cruzam-se definitivamente num cenário trágico quando Lydia é internada em coma na clínica onde trabalha Benigno, após ser colhida por um touro. Entre os dois iniciar-se-á aí uma relação de amizade e uma viagem de aprendizagem e conhecimento mútuo, com Benigno a ensinar a Marco que, apesar do estado clínico em que as respectivas companheiras se encontram, falar com elas se revela a melhor terapia. Uma amizade tão forte entre ambos, que será posta à prova quando se desencadeiam acontecimentos inesperados...

Confesso que conhecia (e continuo a conhecer) muito pouco da obra de Pedro Almodóvar, muito por culpa de uma ideia preconcebida minha, ao ser público a sua preferência pelo lado sentimental feminino, com os seus filmes a explorarem quase exclusivamente o mundo (emocional) das mulheres, algo em que eu acreditei após visionar apenas uma parte de uma das suas obras - o arrojado “Kika” (1993). Este filme veio apagar um pouco desse errado preconceito que tinha, não porque o filme não mantenha muito dessa imagem de marca, mas porque Almodóvar mostra também aqui muito mais do que isso. É um belo filme que, tal como na vida, aborda personagens complexas e relações peculiares, com sentimentos que vão do amor ao desespero e tocando em géneros como o drama, mas com momentos que também nos fazem sorrir. Onde, tal como a certa altura uma das personagens faz referência, o feminino emerge do masculino (e o contrário também acontece). Com uma fotografia (a qualidade da mesma é uma das referências da obra de Almodóvar) prejudicada pela imperfeita projecção na sala de cinema, realce para o argumento nada intricado apesar dos frequentes saltos temporais, muitas vezes a recorrer ao flashback e a possibilidade de Almodóvar, sem se desviar do rumo principal, poder homenagear o cinema mudo (uma das paixões de Alicia, “roubada” por Benigno) e ao mesmo tempo colocar de novo em cena uma das recentes musas do seu cinema (a lindíssima actriz espanhola Paz Vega) numa sequência a preto e branco algo surrealista. Achei a banda sonora adequada (belíssimo o momento musical com a participação especial do cantor brasileiro Caetano Veloso), com as músicas a elevarem-se nos momentos certos, nunca desnecessariamente. Todos os actores principais cumprem muito bem os seus papéis, com principal destaque para Javier Camára no papel do emotivo Benigno, numa interpretação vibrante. Finalmente, o trabalho de Almodóvar revela-se comovente, numa técnica própria, acredito que refinada com a experiência dos anos, com a utilização de poucas panorâmicas comparativamente aos planos médios ou aos grandes planos, algo que também contribui para o tom intimista que percorre quase todo o filme.

**** (Bom)