April 20, 2006

Frases (8): Ben Stein in "Ferris Bueller's Day Off"

"Bueller... Bueller.... Bueller....."

Economics Teacher


April 15, 2006

PenetrArte Files... Spielberg Revisited

Spielberg Revisited

Steven Allan Spielberg nasceu a 18 de Setembro de 1946 em Ohio nos Estados Unidos da América. Hoje, cerca de 60 anos depois é já um nome incontornável na 7ª Arte e um dos mais geniais realizadores de sempre do Cinema. Nascido em Cincinnati e criado nos subúrbios de Haddonfield New Jersey, Spielberg desde cedo mostrou interesse e gosto pelos filmes, completando a sua primeira produção com apenas 12 anos. Após alguns trabalhos e muita paixão demonstrada, Spielberg entra para a Califórnia State University em Long Beach onde conclui os seus estudos. Após a curta Amblin e se tornar o mais jovem realizador a assinar um contrato de longa duração com um estúdio (Universal), Spielberg começa por dirigir programas de televisão antes do seu primeiro projecto a sério, a longa-metragem Duel (1971) seguindo-se ainda The Sugarland Express, começando aí a proveitosa união com o talento do compositor John Williams. Depois chega então… Jaws.

Estreado em 1975, “Tubarão” veio apenas confirmar o imenso talento do jovem Spielberg perante a crítica e o mundo inteiro que o começava a descobrir. A história do enorme tubarão branco que aterroriza uma pequena comunidade costeira, foi filmado de tal forma eficaz, que gerou uma onda de receio por entre o público frequentador das praias, num fenómeno só comparado com os duches e Psycho de Hitchcock. O truque não estava apenas no talento de Spielberg, nem na pequena história retirada do romance de Peter Benchley (basicamente um filme dividido em dois, começando como uma história de terror, com um assassino silencioso e terminando como uma versão de Moby Dick) nem tão pouco o truque estava no tubarão (mecânico) do filme. Aliás, o facto de os problemas com os mecanismos eléctricos do tubarão aliados às difíceis rodagens em pleno mar serem tantos veio ajudar Spielberg a retornar ás origens, com técnicas minimalistas e optando pela câmara subjectiva a mostrar a perspectiva do tubarão pelas profundezas, que juntamente com a brilhante música de John Williams tornou Jaws num marco do Cinema e num sucesso de bilheteira. Apenas dois anos depois, Spielberg resgatava um dos seus actores, Richard Dreyfuss, de Jaws e oferece-lhe o papel principal de Close Encounters of the Third Kind, marco incontornável no cinema de ficção científica e que mostrava já o interesse de Spielberg pelo género, pelas inteligências de outros planetas e mostrava também o seu jeito para os grandes espectáculos, grandes momentos visuais, controle de multidões e momentos emotivos (a meia-hora final de “Encontros Imediatos do 3º Grau” é um esclarecedor exemplo).

Dois anos depois, a arriscada aposta na comédia em cenário de 2ª Guerra Mundial (primeira abordagem clara a um tema e período da história marcante para Spielberg) com 1941, trouxe-lhe o primeiro fracasso de bilheteira e desilusão perante os seguidores que começavam a aumentar. Mas em 1981 estreia Raiders of the Lost Ark, criando em parceria com o seu amigo George Lucas, um ícone na figura do arqueólogo Indiana Jones e oferecendo ao público o prazer e a emoção das velhas matinés, com aventuras trepidantes. Logo no ano seguinte, Spielberg retoma a ficção científica, realizando o que viria a tornar-se mais um êxito incontestável, um dos filmes mais rentáveis de sempre e um marco emocional em diversas gerações: E.T.- The Extra-Terrestrial. A comovente história do menino filho de pais divorciados que encontra um pequeno ser de outro planeta abandonado pelos seus, mostrava uma faceta muito pessoal de Spielberg (ele próprio filho de pais divorciados e assumido eterna criança sonhadora) e confirmava definitivamente Spielberg como um fenómeno em técnica visual e momentos arrebatadores. Com este filme Spielberg passaria também a estender frequentemente o seu domínio ao campo da produção, assumindo com o tempo inúmeras produções de sucesso (constando quer como produtor quer com produtor executivo) para além dos seus próprios filmes.

Em 1984, regressa ao herói Indy Jones, para premiar os fãs com a sequela Indiana Jones and the Temple of Doom. Segue-se The Color Purple, um filme de época retirado de um romance de Alice Walker, a primeira tentativa de Spielberg no cinema dito sério com um tema (muito) clássico e que mostrava um Spielberg ainda inseguro neste território e muito agarrado ao seu estilo visual. O amadurecimento de Spielberg seria porém comprovado em 1987, com The Empire of the Sun, pisando de novo o tema da 2ª Guerra Mundial e pelos olhos de uma criança presa nos horrores da guerra. Num ano, o de 1989, Spielberg estreia dois projectos, primeiro encerrando a trilogia do arqueólogo interpretado por Harrison Ford, desta vez com Sean Connery ao seu lado, em Indiana Jones and the Last Crusade (onde mais uma vez surgia subjacente o tema pai-filho) e depois com Always,um pequeno drama “convencional”.

Já na década de 90, Spielberg regressa á juventude, realizando Hook, a sua versão de Peter Pan com um Robin Williams voando pela Terra do Nunca, confirmando um Spielberg ideologicamente jovem (e a gozar o prazer de ser pai) e mestre na criação de mundos de fantasia. Outros dois anos depois, em 1993, um ano chave na carreira de Spielberg. Volta a concretizar duas obras: Jurassic Park… e Schindler’s List. Se no primeiro, ainda predomina a ligeireza da narrativa e o estilo imensamente visual, com a novidade dos efeitos especiais revolucionários a ressuscitarem os extintos dinossauros (e a loucura do franchise) já o segundo projecto seria completamente diferente. Considerada a máxima obra-prima de Spielberg (pelo menos, sem dúvida, a minha obra preferida), “A Lista de Schindler” mostrou pela primeira vez a face mais negra e séria de Spielberg, ao revisitar o Holocausto na história do alemão Oskar Schindler que salvou imensos judeus da morte certa nos campos de concentração alemães. A aposta na austera fotografia a preto e branco da autoria do polaco Janusz Kaminski (também aqui a primeira colaboração de muitas com Spielberg) revelou-se certeira, cobrindo cada fotograma, cada plano de Spielberg com uma crueza e realismo impressionantes, assim como proveitosa foi mais uma adição de John Williams na premiada banda sonora. O trabalho de Spielberg nesta obra tão pessoal (é público a sua ligação á causa judaica) seria então reconhecida pela Academia norte-americana, ganhando Spielberg o seu primeiro Óscar de Melhor Realizador e saindo Schindler’s List como unânime vencedor na categoria de Melhor Filme desse ano.

Após um interregno de Spielberg na cadeira de realizador que duraria 4 anos, o seu regresso acontece em 1997 com a sequela Jurassic Park: The Lost World, um claro ponto baixo na carreira e ainda Amistad, um drama histórico sobre um julgamento de escravos negros responsáveis por um motim a bordo de um barco. Logo no ano seguinte, regresso ao sucesso e regresso ao terreno seguro da 2ª Guerra Mundial com o excelente Saving Private Ryan (a sua meia-hora inicial permanecerá como das cenas mais realistas de sempre do Cinema), com a história do grupo de soldados encarregue de encontrar e fazer regressar o último irmão vivo de uma família a valer a Spielberg o seu 2º Óscar de Melhor Realizador. Depois, finalmente (e infelizmente por pouco tempo) o encontro, em trabalho, de dois mitos: Spielberg e Stanley Kubrick. Convém desde já esclarecer que Spielberg sempre se considerou fã de Kubick, sendo que a amizade já existia quando Artificial Intelligence: AI surgiu como a oportunidade de conciliarem esforços e talentos. Infelizmente Kubrick morreria ainda na fase de conceitos e pré-produção, assegurando Spielberg o controlo total do filme futurista sobre um menino-robot que desejava tornar-se humano (evidente o paralelismo com a fábula Pinóquio) e que estrearia já no novo milénio, no emblemático ano de 2001.

Mantendo-se na ficção científica, Spielberg unir-se-ia em 2002 com Tom Cruise para Minority Report, um (cada vez mais bem aceite) original conto de Philip K. Dick bem adaptado e transformado por Spielberg, sobre um futuro próximo onde se pode descobrir e prender criminosos antes mesmo de eles efectuarem os seus previstos crimes. Para completar o ano de 2002, mais um filme e mais uma história baseada num personagem real (e num personagem mais uma vez atormentado por uma relação peculiar com o seu pai) em Catch Me If You Can, com Leonardo DiCaprio no papel do vigarista Frank Abagnale. Dois anos depois, Spielberg requisitaria pela 3ª vez Tom Hanks para o papel do imigrante Viktor Navorski que por circunstâncias anormais se vê burocraticamente circunscrito aos limites de um terminal de aeroporto, no descomprometido e ligeiro The Terminal.

No mais recente regresso de Spielberg à ficção científica com o (por muita gente) incompreendido remake de War of the Worlds, a famosa premissa de H.G. Wells é desta vez adaptada ao ponto de vista de uma família (o pai divorciado e os seus dois filhos) em fuga de uma invasão alienígena. Nem o abrupto argumento conseguiu estragar a evidente amostra de maturidade de Spielberg, fugindo este às habituais overdoses de efeitos especiais e repetitivas destruições de cenários, passando por cima da exclusividade e tempo de antena dado aos extraterrestres neste tipo de filmes, conciliando bem os momentos dramáticos e as questões familiares. O seu último filme (previsivelmente penalizado na ultima cerimónia da Academia) é porém o regresso unânime à melhor forma, com o polémico Munich (2005), sobre os acontecimentos terroristas dos Jogos Olímpicos de Munique em 1972 e a retaliação israelita que se seguiu. Com toda a sua experiência, em cada plano, Spielberg ludibria os detractores que esperariam que a sua veia judaica condicionasse todo o ideal do filme, quando, pelo contrário, este nos oferece uma experiência ambígua, sempre poderosa, sobre a tragédia interminável, do flagelo do terrorismo e a inconsequência da vingança.

Spielberg não é um realizador perfeito. Terá por isso (para além dos que preferem simplesmente outros realizadores), naturalmente, quem não goste dele ou do seu estilo. Porém, muitos desses detractores optam quase sempre pelo ataque mais fácil e injusto. Dizer, por exemplo, que o cinema de Spielberg é “pouco exigente” (ou quem pegue no exemplo de Kubrick, dizendo-o que o cinema de Spielberg é “menos exigente”) é desconsiderar muito do público fã de Spielberg e é dizer que filmes como The Empire of the Sun, Schindler’s List ou Munich são obras pouco exigentes, que são filmes “fáceis” de ver ou que não exigem nada do espectador… ora isso não tem claramente fundamento. Spielberg é emotivo e transporta isso para o seu cinema. Antes de ser realizador, como qualquer um de nós ele fez parte do público, daqueles que vão ao cinema não para ver exclusivamente “lições de bem filmar” ou “aulas de cinema” mas também pelo escape, pelo entretenimento, para se emocionarem. Algumas das vezes essa emoção é transmitida de uma maneira mais ligeira, exageradamente visual ou com um argumento menos complexo. Mas isso não faz do cinema de Spielberg um mau cinema ou um cinema menos exigente. Comparando com o citado Kubrick (naquilo que é possível comparar, já que se tratam de realizadores de gerações diferentes, “escolas” diferentes, condicionalismos diferentes, temperamentos diferentes…) também se podia acrescentar que embora tecnicamente perfeito, travellings de meter inveja etc, os filmes de Kubrick eram quase sempre desprovidos de emoção (talvez isso o tornasse… mais exigente de ver?) e também por isso muitas vezes mal recebidos junto do público. E será que um fã de David Lynch não poderia afirmar que o cinema de Kubrick é menos exigente que o de Lynch? Ou que, falando de ambientes e argumentos complexos, qualquer outro cinema é menos exigente que o de Lynch?

Outra das tiradas mais comuns tem a ver com as frequentes referências (mais subjacentes ou não) em muitos filmes de Spielberg às questões das relações pai-filho ou do pai ausente, como se isso fosse algo inibidor de estarmos perante um bom filme ou um bom argumento. Ao longo da história do Cinema muitos realizadores tiveram uma imagem de marca ou referências próprias, criticar portanto a questão da relações pai-filho nos argumentos de Spielberg ou a sua preferência pela temática da 2ª Guerra Mundial seria praticamente como criticar o suspense em quase todos os filmes de Hitchcock, a violência de David Cronenberg, os diálogos elaborados de Tarantino ou os filmes de John Ford terem quase sempre muitos cavalos e muitos cowboys… O facto de Spielberg ser filho de pais divorciados não pode ser tratado de uma forma menor e não se pode negar que isso influenciou muito do seu trabalho. Poderemos compreender também a partir daí aquele lado tão emotivo e sentimental de muitas das suas obras, ou a tendência para oferecer aos seus filmes um final feliz, um final onde as tristezas são superadas e a família se une, se reúne momentos antes dos créditos finais desfilarem.

Agrada-me também em Spielberg a sua aparente (exclusiva) espontaneidade e intuição em detrimento de uma técnica calculada e perfeccionista, algo só possível pelo inato talento e a sua capacidade de uma “montagem mental”, de conjugar e equilibrar momentos dramáticos com momentos extremamente apelativos visualmente, porque de facto se tivermos atentos é possível reconhecer um padrão, a sua técnica, em algumas das suas cenas famosas em determinados filmes: espantosa a semelhança (e o suspense conseguido) entre a célebre cena de “Parque Jurássico”, quando as duas crianças se refugiam de perigosos dinossauros numa cozinha, e a cena com Tom Cruise e a sua “filha” Dakota Fanning a esconderem-se dos ameaçadores alienígenas na cave de “A Guerra dos Mundos”… E o que dizer da sua preferência para usar um conhecido movimento de câmara, em que esta partindo de uma posição ao nível das personagens (em primeiro plano ou em grande plano) efectua uma trajectória característica seja para realçar a superioridade da ameaça ou a grandeza do espectáculo que as ditas personagens presenciam naquele instante?

Spielberg terá defeitos certamente, quanto mais não seja alguma tendência para alguns exageros ”melodramáticos” ou alguma falta de “versatilidade” em algumas temáticas (muita 2ª Guerra Mundial e ficção científica e poucas comédias talvez… apesar de conseguir extrair bom humor de muitas situações dos seus filmes) mas de resto Spielberg tem e conseguiu reunir tudo o que precisa: uma (excelente) técnica própria, um bom sentido de espectáculo, de emoção (uma das razões de fundo para que se opte por uma sessão de cinema), uma boa equipa, boas parcerias (bem escolhidas), bons castings, enfim, um realizador bastante completo e competente. E para mim o melhor realizador da actualidade, cujo nome nos créditos a cada nova estreia basta para me fazer gastar sem hesitar o dinheiro de um bilhete de cinema. Bem haja Mr. Spielberg, continue a sonhar e a fazer sonhar.

Dário Ribeiro
Estudos Artísticos
(proposta de artigo para a revista Penetrarte)