January 23, 2009

Vicky Cristina Barcelona (2008)

Vicky Cristina Barcelona (2008) - Woody Allen

Vicky e Cristina são duas grandes amigas. Apenas não partilham a mesma visão do amor. Vicky faz tudo por honrar compromissos, casando com o seu homem idealizado. Cristina, rebelde, acredita em arriscar no desconhecido. Após o recente doutoramento de Vicky, numa viagem a Barcelona, são abordadas por Juan Antonio, um pintor idealista acabado de sair de uma anterior relação muito conturbada. O convite dele inclui uma breve passagem por Oviedo, com uma noite sexual a três de permeio. Se a racional Vicky torce o nariz à arrojada proposta, já a espontânea Cristina arrasta a confidente para a aventura. Porém, as coisas complicam-se quando Doug, o noivo de Vicky, e Maria Elena, a caótica ex-mulher de Juan Antonio, se juntam ao ramalhete.

Se, num realizador tão reconhecido e profícuo como Woody Allen, muitos não conseguem acompanhar todas as obras de tão vasta filmografia ao ritmo que elas vão estreando, sabemos também que existe sempre a hipótese de a próxima ser melhor do que a anterior. A um fracasso comercial que foi «Cassandra’s Dream», sucede o regresso a um terreno já muito explorado por Allen, desde as buscas do sentido da vida, passando pelos desejos sexuais, até às obsessões. As conhecidas marcas autorais também se fazem notar. Estão lá as neuroses, os complexos de culpa, os diálogos assertivos que motivam (e são) a própria acção, a mais recente musa (Johansson) e até um narrador, desta vez infelizmente, redundante e desnecessário. Mas a verdadeira diferença está no argumento aprimorado por um Woody Allen refinado, com um “quarteto amoroso” muito apelativo, onde podemos olhar um pouco de Allen himself reflectido em cada um dos constituintes desse conjunto de amantes. É verdade que o filme ganha mais interesse, a meio, na tour de force de uma alienada Penélope Cruz. Mas os restantes actores principais complementam-se bem, num misto de sensibilidade e sensualidade, habilmente seguidos pela câmara do (desta vez apenas) realizador. Todos enquadrados, não na cidade natal de Allen, mas numa Espanha iluminada em tons dourados, em vários locais onde este Allen vintage se diverte a chocar o puritanismo norte-americano contra a fogosidade de nuestros hermanos. E não é só em pormenores que Allen mostra admiração por Gaudi ou Barcelona, mas também em planos abertos, outrora dedicados com tanto fulgor apenas a Manhattan e arredores. Porém, também percebemos que não há amor como o primeiro. Talvez por isso que, apesar de tudo, «Vicky Cristina Barcelona» seja apenas mais um postal, fugazmente apaixonado, desse turista nova-iorquino de passagem pela Europa.


*** (Razoável)